quarta-feira, 27 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Razão de ser





Kandinsky






Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma brucutu


Ouvi um barulhinho atrás do fogão. Corri pra sala e me muni de inseticida e de coragem para, cuidadosamente, esticar o pescoço e descobrir quem fazia o barulho. Era uma barata. Não dessas normais... uma barata selvagem.
Houve um tempo em q eu podia dizer: “não mato baratas selvagens” e me orgulhava disso. Partia do princípio de q se elas não moram no esgoto, não correm rápido e daquela forma desesperadas q as baratas correm e não voam, é pq são gente boa e não merecem ser mortas.... e foi assim durante um longo tempo. Até o dia em q uma se aventurou a entrar voando pela minha janela e correr pelo chão da minha sala destruindo, por completo, minha crença na possibilidade de convivência pacífica com elas.
As baratas selvagens são assustadoramente grandes, mas um pouco menos feias q as normais.... vistas de barriga pra baixo, é claro. O fato, é q nesse fatídico dia assassinei minha primeira barata selvagem. Não sei se era rebeldia de barata, só sei q essa foi a primeira e única selvagem q voou e correu e, portanto, a primeira e única q matei. Hoje, estou de volta aos bons tempos de poder afirmar q não mato baratas selvagens. Trata-se de um princípio, tal como, não possuir passarinhos engaiolados, não cortar rabo de cachorro, não jogar lixo no chão ou não misturar molho branco com molho vermelho. Enfim, é como um acordo: se ela não me incomoda, eu não a incomodo tbm!
Acontece, q eu achei q poderia lavar a louça tranquilamente, enquanto a pobre descansava as perninhas ali perto do fogão.... mas logo ela veio em minha direção, dei um pulo pro outro lado da cozinha, ela se virou, mirou no pé e veio de novo... eu mais uma vez dei um pulinho pro outro lado e lá veio ela. Aí perdi a paciência, né, pq não tenho sangue de barata e gritei: AÍ NÃO MINHA FILHA! TÁ PEDINDO PRA MORRER! Ela me olhou e quase pude enxergar seus olhinhos... se virou e saiu pela porta, civilizadamente. Pensei: selvagem? Só se for no nome! Pois como são finas as baratas selvagens.... sem gritarias, sem escândalos, sem chororô, nada, nada... simplesmente juntou sua trouxinha e foi-se embora.
Fiquei achando q tenho um dom... tal como o da tia Fia, a matriarca da família. Reza a lenda q ela fez de tudo pra acabar com as formigas q invadiram sua cozinha, usou todos os tipos de veneno e de mandingas para espantar as desagradáveis visitantes e nada deu certo... até o dia em q ela puxou uma cadeira, se sentou, e teve uma conversa de mulher pra formiga explicando bem direitinho pq elas não eram bem vindas ali naquele lugar. As formigas compreenderam e nunca mais apareceram.
Digo isso, pq já andei observando q basta um bom berro enfurecido para q os passarinhos q moram no meu cajueiro se calem e me deixem dormir sossegada de manhã.         
Eu acho lindo acordar com o barulho dos passarinhos, tão bucólico... acontece q tem um bem-te-vi aqui, q comanda a festinha, q não tem o menor senso de “sua liberdade termina onde começa a do outro”, ele acha q pra cantar bonito tem q cantar gritado... julga q pode competir com as maritacas no quesito gogó de ouro.  Ele atiça todos os outros passarinhos e apronta uma verdadeira rave passarística na minha janela todos os dias de manhã .... e muitas vezes só se calam depois de acabarem completamente com minha paciência, me fazerem levantar, abrir a janela e gritar: OOOOOOLHA O EXAGEEERO!!!! No entanto, soam como palavras mágicas.... eles se calam e eu volto a dormir.
Claro q não é pq eu tenho um dom... ou acho q tenho... ou tenho muita vontade de ter, rs...  q não tenho muito q aprimorá-lo. Afinal, no frigir dos ovos quem é a selvagem? Não chego nem perto da elegância da tia Fia, nem da finesse das baratas selvagens, tão pouco da compreensão das formigas e menos ainda do bom humor do bem-te-vi. Resolvo tudo na base do berro! Tô bem mais pra uma brucutu do q para uma lady.  
Mas eu ainda chego lá!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Doce mentira



“Prefiro a pior verdade à melhor mentira”

Li isso recentemente no perfil de alguém e me danei a pensar...
Então quis saber quem disse isso q todo mundo fica repetindo q nem disco furado (é... sou da época dos discos furados, mesmo!)
Descobri q uma porção de gente gosta dessa frase... e fiquei pensando será q eu tenho problema?
Pq eu, definitivamente, não gosto!

A vida da gente é pra ser boa (taí uma coisa q não me canso de dizer).... não pra ser correta... claro q uma coisa nem sempre exclui a outra, mas quando excluir eu escolho a boa!
Sabe de uma coisa.... ninguém vive numa realidade total e diga-se de passagem isso seria muito chato.

Por isso prefiro uma ilusão terna e acolhedora à uma realidade difícil e cruel, prefiro os delírios à rotina, a magia à sensatez, a poesia ao informativo, a inspiração à transpiração, os desenhos animados ao telejornal.

Tem alguma coisa errada comigo ou o resto do mundo, realmente, pensa q gosta da verdade?

Quem gosta quando aquela parenta olha pra vc e diz: “ menina, mas vc engordou, hein!”? Ela pode te dizer isso da forma mais delicada e carinhosa do mundo. Ela pode te dizer isso ao mesmo tempo em q te beija as bochechas, numa atitude do tipo “te amamos, mesmo gordinha”. Não importa o quão sincera seja, isso te remeterá, na hora, ao beijo de Judas e te condenará a fugir eternamente do garçom com a bandeja de salgadinhos. 
O problema não é a forma de dizer e sim o conteúdo do q foi dito.
Ou quando vc faz um penteado elegante e seu namorado diz: "isso aí  na sua cabeça é um ninho de passarinho?" Equivale a jogar um piano de cauda na sua cabeça. Te obriga a voltar pro quarto já com os scarpins nas mãos em completa atitude de derrota e pensamentos suicidas.

Que seja verdade, eu não quero ouvir! 
Quero comer salgadinhos sem culpa.... com a mesma espontaneidade e alegria dos meus sobrinhos. Quero achar q todos me olham pq meu penteado é, simplesmente, um sucesso!
Quero ouvir q sou a mulher mais linda do lugar mesmo tendo a plena consciência de q pelo menos umas 57 são mais bonitas do q eu.

Aquela velha história de “sou sincera, falo tudo na cara” é muito triste pq quase sempre extrapola o bom senso. É claro q não se deve abrir mão da sinceridade, mas deve- se impor um limite a ela - o limite do carinho.

Nem toda mentira é maldosa, e uma mentirinha do bem pode tornar a vida tão mais fácil, tão mais simples, tão mais feliz. 

Não me privem das doces mentiras!