Outra noite, eu estava distraída dentro do carro quando passou por mim um bêbado cantando uma música q agora não me recordo qual, mas era uma dessas sertanejas bem antigas. Ele não me viu, mas eu fiquei observando-o até q desaparecesse na rua.... e aquilo de alguma forma me aqueceu o coração.
Na mesma hora, fiz uma anotação num papelzinho, q achei jogado dentro do carro, pois quando escrevo jamais esqueço.
Aquela cena me fez pensar. E então, me lembrei de um moço q eu encontrava todos os dias no meu horário de almoço lá em Udi, no caminho pro restaurante. Ele vinha sempre com seu foninho de ouvido e cantava música gospel numa altura de dar inveja aos cantores de rua mais tímidos, como eu.
Confesso q tbm vivo cantarolando por aí, mas baixinho, e assim q cruzo com algum cidadão, interrompo minha cantoria, talvez, por medo de parecer doida.
Mas esse moço não. Nem ele e nem o bêbado pareciam ter medo algum de serem chamados de doidos... e eu mesma, em momento algum, achei q eles fossem.
O bêbado na escuridão da noite com sua roupa suja e rasgada... provavelmente indo pra casa ou pra algum bar.
O moço no sol forte do dia de cabelinho molhado e uniforme engomadinho... provavelmente indo pro trabalho ou pra alguma igreja.
O bêbado e sua música sertaneja de letra doída... como só as músicas sertanejas sabem ter.
O moço e sua musica gospel de letra abrasadora... como só as músicas gospels conseguem ter.
Daí me veio à mente aquelas pessoas q tocam instrumentos imaginários e me lembrei de q quando eu era criança tinha um garoto q morava perto da minha casa q vivia tocando uma bateria imaginária. Na escola, no ponto de ônibus , na igreja,.... Onde quer q eu o encontrasse lá estava ele tocando, como se não existisse mais ninguém em todo o planeta.
Eu achava aquilo a coisa mais linda e mágica desse mundo. Queria muito ter tido um instrumento imaginário, mas nunca tive. Aliás, hoje, depois de grande, às vezes toco, timidamente, uma sanfoninha bem desajeitada na barriga, mas é só por diversão... não é nunca como a bateria do garoto, tão bem tocada e sentida, ele sim levava aquilo à sério e mandava muito bem.
Enfim, depois de meses, encontrei o papelzinho jogado dentro do carro com os seguintes dizeres: EU ADORO GENTE Q CANTA NA RUA!!!!