Vou pra academia como quem vai ao matadouro. A passos lentos, na esperança de q caia um raio, um meteoro ou aconteça qualquer outra coisa do gênero q me impeça, no meio do caminho, de cumprir a terrível sina.
Meu instrutor, sempre alegre e receptivo exibe um sorrisinho q pode parecer amigável aos inocentes e inexperientes frequentadores... mas q a mim não engana. Me parece um tipo de felicidade mal-intencionada típica de torturadores. Diga-se de passagem, não há comparação melhor do q a dos aparelhos de musculação com as máquinas de tortura.
Entre um exercício e outro me perco nos meus pensamentos e torço para q eu não me encontre nunca mais e assim não tenha q terminar as infindáveis séries.... e cadê o danado do meteoro?
Hoje, numa dessas minhas “perdições”, entre o adutor e o abdutor, fiquei pensando sobre o meu crescente número de faltas, caprichosamente, anotadas na minha ficha pelo lápis-de-escrever-com-borracha-na-ponta do Carlos, o instrutor.
Já, de cara, joguei a culpa no marido.
O combinado era fazermos juntos... um dando força pro outro... um motivando o outro quando este estivesse com preguiça. Esse é um dos pactos q se faz no dia do sim. Na alegria... na tristeza... na saúde... na academia ...
O “vamos malhar juntos” proferido por um casal, deveria significar o estreitamento dos laços da relação... um passo para além da intimidade, um marco na vida a dois, um querer compartilhar a dores, as agonias, as tristezas... um verdadeiro ato de amor.
Quando uma das partes descumpre o trato, o ser- abandonado sente-se desamparado, e se gosta de escrever e não muito de malhar.... pega mais q depressa seu bloquinho de anotações e até se esquece q está na academia... enquanto a fila para o abdutor cresce às suas costas e olhinhos curiosos tentam espiar seu caderninho. Acredita q o fato de ter tido uma idéia para um texto o exime da obrigação de terminar a malhação. É a desculpa perfeita!
Mas a verdade-verdadeira da coisa é q camuflamos o real sentido do apoio ao parceiro quando o quesito é malhação. Funciona da seguinte forma: não incentivamos o parceiro a malhar pq isso é um bem q fazemos a ele, uma preocupação com sua saúde ou sei lá oq... é mais uma provocação, um “levanta desse sofá, seu fracote!” velado. E mesmo q vc tbm não esteja nem um pouco afim malhar... rapidamente veste sua roupinha e faz cara de esportista pra mostrar q o outro, largado no sofá, não tem metade da sua energia. Aí, por maldade, a mais pura maldade, vc obriga o infeliz a se levantar e se aprontar rapidamente pq já estão atrasados .... e sai puxando-o pelo braço com uma animação totalmente fingida, que de tão bem fingida até vc acredita!
Assim, na próxima vez,o casal troca de papéis e oq estava na posição fracote fará vc passar por tudo q vc o fez passar da outra vez e mais um pouquinho, pq a gente nunca quer descontar um beliscão com outro beliscão do mesmo nível... quando descontamos caprichamos na força, tem q ser mais doído. É a lei dos descontos!
São as pequenas maldades do casamento.